A alta taxa de inflação e de juros prejudica os trabalhadores a ponto de as medidas eleitoreiras do governo não surtirem efeito. “O governo anunciou o pacote eleitoreiro, prevendo a liberação de recursos do FGTS, antecipando o pagamento 13º do INSS, entre outras medidas. Isso dá um respiro insuficiente para a economia do país”, afirma o supervisor do Dieese em São Paulo, Vitor Pagani.

Segundo Pagani, o sistema financeiro acaba se apropriando de parte desses recursos. “Então, não vai estimular nem o consumo, nem a atividade econômica como propagandeou o governo. Como isso se dá num contexto de escalada inflacionária, esses recursos são insuficientes”, avalia.

O especialista aponta que parte desse dinheiro vai pagar dívidas e parte é corroída pela inflação. “Além disso, essa política de liberação do Fundo de Garantia é um problema, pois desconsidera o objetivo do próprio fundo”. Desse modo, os recursos do FGTS teriam um impacto maior na atividade econômica se fossem destinados a investimentos públicos. Por exemplo, em obras de infraestrutura, saneamento e moradia.


Auxílio Brasil e renda


Outro indicador preocupante do cenário de queda na renda e na atividade econômica é que o número de beneficiários do programa Auxílio Brasil é maior que o de empregos com carteira assinada em 12 dos 27 estados da Federação. Os dados são de estudo recente do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) em parceria com o site Poder360.


Os resultados mostram que há prevalência do Auxílio Brasil no Norte e no Nordeste do país, nos estados do Maranhão, Bahia, Pará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Ceará, Sergipe, Amazonas, Amapá e Acre. O Rio Grande do Norte é o único nordestino que registra mais empregos formais com carteira assinada do que beneficiários do Auxílio Brasil – mas a diferença é mínima: 437.717 potiguares recebem o benefício e há 438.871 empregos formais no estado.


Em entrevista à Rádio Brasil Atual, Vitor Pagani afirmou que os dados são reflexo do desemprego elevado e da alta taxa de informalidade. O número de informais chegou a 25,9 milhões no 4º trimestre de 2021. “Isso está relacionado à ampliação do Auxílio Brasil e à deterioração do mercado de trabalho brasileiro. A retomada das ocupações ocorre no meio informal, somado aos trabalhadores que se tornam autônomos”, afirmou ele, em entrevista ao jornalista Glauco Faria.


Em fevereiro de 2022, eram 18 milhões de beneficiários do Auxílio Brasil e 41 milhões de empregados com carteira de trabalho. O número de benefíciários chegou ao inédito patamar de 44% dos empregos formais com carteira. (Brasil de Fato)

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